Para um grupo de pessoas queridas, 2010 sempre será lembrado como um ano de lágrimas. Coisas maravilhosas aconteceram, mas para estes, nada foi tão intenso e inesquecível como a separação de uma pessoa amada. A dor da perca sobrepõe todas as conquistas e vitórias desses dias.
Pensar na morte nos leva a reflexões profundas e a questionamentos sem fim, ainda mais quando se trata de pessoas jovens com muitos sonhos e expectativas e que partiram em circunstâncias abruptas e repentinas.
Não creio que algum livro biográfico surgirá para homenagear a Amanda e o Adriano, mas bem que poderia ser afinal, os testemunhos de despedida declararam que eles marcaram profundamente a vida daqueles que com eles andaram. Assim, tenho a expectativa de que esta meditação possa servir de homenagem à memória deles, mas principalmente de edificar a fé de uma igreja com cara de jovem e que luta para resistir às tentações de existir apenas para esta vida terrena.
Na sua página em site de relacionamento a Amanda fez uma declaração de fé fazendo a seguinte citação:
"Eu não pertenço a esse mundo. Não quero pertencer. O mundo está um caos: guerras, fome, destruição, ódio, violência, assassinatos, roubos, prostituição, pornografia, pedofilia, promiscuidade, inimizade, traição. Ninguém se respeita. Ninguém se importa com o outro. O mundo está dominado pela escuridão. Eu quero mudar esse mundo. Eu quero fazer a diferença. Eu tento fazer a minha parte. Eu tento fazer a diferença na vida de cada amigo meu, de cada pessoa ao meu redor. O meu desejo é que a minha fé possa iluminar e possa realmente fazer a diferença nessa escuridão. Eu não vivo para satisfazer meus próprios desejos e prazeres. Eu vivo pra Deus. Eu vivo para os outros. Eu vivo para amar o próximo, para ajudar, para me importar realmente com a sua vida. O mundo só se tornará um lugar melhor se as pessoas mudarem." Jesus é a minha razão, a minha essência.
Gosto da mensagem que compara nossa vida a uma viagem de trem, pois assim como a vida uma viagem de trem é cheia de embarques e desembarques, de pequenos acidentes pelo caminho, de surpresas agradáveis com alguns embarques e de tristezas com os desembarques...
Diz esta mensagem que no início da viagem, ao embarcarmos nesse trem, encontramos duas pessoas que, acreditamos que farão conosco a viagem até o fim: nossos pais. Infelizmente não será assim, pois em alguma estação, eles desembarcam, deixando-nos órfãos de seu carinho, proteção, amor e afeto.
Mas isso não impede que, durante a viagem, embarquem pessoas interessantes que virão ser especiais para nós...
Muitas pessoas tomam esse trem a passeio. Outras fazem a viagem vivenciando um verdadeiro drama. E no trem há, também, outras que passam de vagão em vagão, prontas para ajudar quem precisa. Muitos descem e deixam saudades eternas. Outros tantos viajam no trem de tal forma que, quando desocupam seus assentos, ninguém sequer percebe.
Essa viagem é assim: cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, embarques e desembarques. Sabemos que esse trem jamais volta.
Fico firme na esperança de que, em algum momento, estarei na estação principal, e terei a emoção de reencontrar pessoas carregando bagagem que não tinham quando embarcaram. E o que me deixará feliz é saber que, de alguma forma, eu colaborei para que essa bagagem tenha crescido e se tornado valiosa.
Muito embora estejamos falando da morte, você pode entender essa ilustração apenas como o término de uma história, de algo que duas ou mais pessoas construíram e que, por um motivo ínfimo, deixaram desmoronar.
Fico feliz em perceber que pessoas têm a capacidade de reconstruir e recomeçar. Isso é sinal de garra e de luta, é saber viver, é tirar o melhor de "todos os passageiros", é extrair o melhor da viagem.
O apóstolo Paulo foi um homem de Deus que conviveu com a realidade da morte bem de perto. Suas convicções de fé eram tão claras que chegou a afirmar partir (morrer) era algo muito melhor (desejável) e que a vontade de viver estava baseada no amor às pessoas e no desejo de desenvolver a obra de Deus que estava sob os seus cuidados.
Na carta aos Filipenses encontramos expressões como o morrer é lucro, e ainda: estar com Cristo é infinitamente melhor. No entanto, não podemos interpretar essa imagem como sendo agradável ou fácil. Olhemos para um momento de despedida de Paulo e dos seus amigos, presbíteros da igreja de Éfeso:
Quando Paulo acabou de falar, ajoelhou-se com os irmãos e orou. Então todos choraram muito e abraçaram e beijaram Paulo. Estavam tristes, especialmente porque ele lhes tinha dito que nunca mais iam vê-lo. Então eles o acompanharam até o navio. (Atos 20.36-38;)
No contexto desse texto Paulo faz um breve discurso de despedida afirmando os valores essenciais da fé como a salvação pela graça em Cristo Jesus, a necessidade do arrependimento e a importância da firmeza de propósito para continuar a caminhar com o Espírito Santo.
O que me chama a atenção é que a convicção da eternidade em Cristo não impediu a tristeza pela despedida. Quando aqueles irmãos e irmãs perceberam no discurso que não veriam mais seu rosto, não ouviriam mais sua voz, não mais cantariam ou orariam juntos, eles choraram muito, abraçaram e beijaram o apóstolo e ficaram com ele até o último instante possível.
Há um alento para nossas almas. Nossos amigos foram promovidos e tal qual eles, nós também seremos. Não sabemos o dia, nem a hora, nem tampouco as circunstâncias nas quais essa promoção virá, mas temos fé de que nossa despedida não passa de um até breve.
Talvez ao ler o exemplo de Paulo alguns tenham o desejo de ter tido pelo menos uma despedida como aquela. Isso não será possível, mas é possível beijarmos, abraçarmos e vivermos com aqueles que conosco estão.
A Bíblia diz que aqueles que morrem em Cristo, em Cristo viverão. Agradeço a Deus pelo testemunho de vida de cada um dos jovens promovidos, principalmente porque eles morreram em Cristo, dessa forma, para aqueles que estão em Cristo a afirmação de despedida é até breve!
Amanda Fascini (15-03-1991 – 24-07-2010)
Adriano José Leandro Severino (20-03-1981 – 21-11-2010)