Neste ano de 2015, o dia 19 de Janeiro foi feriado aqui nos Estados Unidos. O motivo é lembrar e honrar a memória Martin Luther King Jr. que na realidade não nasceu no dia 19, mas no dia 15 de Janeiro de 1929. O projeto de lei para fazer do dia do seu nascimento um feriado começou logo depois do seu assassinato em 1968, mas foi sancionado apenas em 1983 pelo então presidente Ronald Reagan e tornou-se efetivamente um feriado nacional apenas em 1986, não sem luta, marca da vida e ministério de MLK Jr. O dia escolhido atualmente para celebrar tem sido a terceira segunda feira do mês de Janeiro.
Estar nesse país e viver na região metropolitana de Atlanta tem sido um grande privilégio. Além da beleza natural da região, algumas atrações turísticas são indispensáveis para quem pensa em vir pra cá. O Geórgia Aquarium e o museu da Coca-cola bem no centro da cidade atraem milhares de pessoas todos os anos. Fazer compras ou assistir espetáculos esportivos do Falcons (Futebol americano), Hawks (NBA) ou Braves (Baseball) também é muito divertido. Também estão aqui algumas grandes igrejas como a Mount Pisgah UMC, a Passion City Church e a North Point Community cujos cultos dominicais são um espetáculo à parte.
Também temos tido o privilégio de receber muitas visitas desde que mudamos para a América e a maioria dos nossos amigos tem desfrutado da oportunidade de fazer várias dessas atividades que acabei de listar. Algumas vezes temos condições de acompanhá-los, o que torna tudo mais agradável.
Cerca de 6 meses atrás, porém, fui com o Pr. Luciano Pereira conhecer o memorial Martin Luther King, um lugar muito perto de vários pontos turísticos famosos, mas que tem uma proposta muito diferente. Não é um lugar divertido ou encantador. É uma América diferente, um monumento da realidade que não encanta, mas transforma.
ML como seus familiares o chamavam quando criança, filho e neto de pastores Batistas, nasceu em casa na Rua Auburn na região central da cidade de Atlanta. Na época, uma rua de população predominantemente negra de classe média. É nesse cenário, poucos metros da casa do seu nascimento, que ficam a igreja Batista Ebenezer (hoje museu), a nova Igreja Batista Ebenezer (em plena atividade), a estação número 6 do corpo de bombeiros (também museu), além do memorial deste grande líder do século XX.
Não pretendo repetir aqui a história já narrada tão bem e de tantas maneiras, mas gostaria de compartilhar minha experiência de visitar esse lugar que não camufla a realidade do mundo (que foi e é) cheio de opressão e luta.
Logo na infância, aos 6 anos, sofreu muito ao ser proibido de brincar com seu melhor amigo porque este era branco, dor transformada em vida quando aos 15 aprendeu sobre amar os inimigos. Sua história é feita de ricos detalhes, desde o nascimento até o seu assassinato, contudo, nada me impactou mais do que os sermões pregados com palavras e atitudes, cheio de ousadia e profundidade, reflexos de uma convicção de fé bíblica clara e muito bem contextualizada. É o poder da Palavra de Deus despedaçando o jugo. Suas convicções de que a liberdade precisa ser reivindicada, de que o amor (e a consequente não violência) é único caminho possível e de que a liberdade plena e final é a vida eterna com Deus, impressionam e tocam mesmo o visitante mais insensível.
Visitar este lugar me deixou mais do que inspirado, e meus convidados têm testemunhado o mesmo. Conhecer o sul dos Estados Unidos é uma oportunidade ímpar, o palco de grandes lutas, abolição tardia da escravatura e berço da luta contra a segregação racial. A luta não acabou, pois como sabemos e cremos a liberdade completa, o “free at last”, somente acontecerá com a manifestação plena do Reino de Deus. Todo aquele que tem a vocação de andar com Jesus precisa entender que vive para anunciar esse Reino.
Ainda gosto de levar meus convidados a lugares divertidos, mas eles têm ouvido de mim que, além de torcermos pelo Hawks no Philips Arena ou ir às compras, precisam fazer uma visitinha especial. Até agora tem sido o passeio mais abençoador.